domingo, 3 de julho de 2011

Vida

No dia 4 de Agosto de 1904 nasceu na cidade de Braga, uma criança do sexo feminino com o nome de Maria Felizmina.

A mãe de Maria Felizmina morreu quando esta tinha quatro anos. O pai casou em segundas núpcias e foi morar para outra casa. A criança idolatrava a ama e quando deixou de estar com ela ficou doente. O pai entregou-a novamente à ama que era uma lavradeira em Lomar onde cresceu com os ares lavados do campo e o aconchego de um lar que não era o seu.


Com poucos anos, Maria Felizmina teve uma visão ou sonho do bom Jesus do Monte que lhe perguntou:
-Queres ir para o céu?
-Quero ir para a tia.
-Sofrerás muito em toda a tua vida.


Aos seis anos, Maria aprendeu a doutrina e aos sete anos confessou-se a primeira vez ao reverendo padre António Maria Fernandes e ao padre João de Azevedo. Comungou a primeira vez aos dez anos, porque naquele tempo não era permitido a primeira comunhão aos sete anos.
Maria Felismina ao mesmo tempo que estudava, era sumamente piedosa. Consagrou a Nossa Senhora do Sameiro especial devoção e comungava com frequência. Sempre se notou nela uma piedade espontânea, simples e sincera.




Maria Felizmina desejava ser filha de Maria. era obstáculo a sua pouca idade de quinze anos.
Um dia em conversa como o Padre Luiz Gomes:
"Senhor Padre Luiz Gomes eu desejo ser Filha de Maria."
"És ainda muito nova. Não podes entrar"
"Ó Senhor Padre, só a mim é que me não deixam entrar!"(e começou a chorar)
"Sossega, filha, que hás-de entrar!"
Decorrido pouco tempo era admitida para aspirante e depois para Filha de Maria, aos quinze anos, abrindo-se uma excepção, quanto à idade, para ela! Maria Felizmina consagrava apreço às associações religiosas, filiando-se pela vida fora em muitas, desde o Apostulado da Oração cuja patente de admissão data de 14 de Junho de 1917, até à Associação dos Amigos do Bom Jesus do Monte cujo diploma lhe foi passado em 10 de Janeiro de 1953.

Maria Felizmina cursou os estudos com aproveitamento, distinguindo-se entre as condiscípulas pela inteligência, boa educação e disciplina.
Num caderno de memórias, escreveu " Adoeci gravemente pela primeira vez em 1924 - tinha 20 anos com uma peritonite gravíssima, ficando 13 anos doente. Ao fim sofri uma melindrosíssima operação, ficando boa 3 anos".
Maria Felizmina curou-se completamente da impertinente enfermidade que a reteve no leito por vários anos. Atribuiu a sua cura a Nossa Senhora do Sameiro e publicamente dirigiu-lhe um agradecimento.
Um dia de convalescença viu Nossa Senhora sob uma forma mais bela que a imagem do Sameiro. A Virgem era deslumbrante e formosíssima...
Maria Felizmina levava vida inocentíssima. A 3 de Julho de 1937, aos 33 anos fez a sua primeira confissão geral no Hospital da Póvoa de Lanhoso, quando foi operada pela primeira vez. Não precisava de fazer uma confissão geral, contudo quis preparar-se. No seu testamento de de 1 de Outubro de 1955 escreveu." Maria Felizmina agradece ao Sagrado Coração de Jesus e a Nossa Senhora do Sameiro por ter vivido sempre na Sua Divina Graça desde que nasceu aos 4 de Agosto de 1904"
Em 20 de Agosto de 1937, no Hospital já ia melhor e já podia caminhar.

Havia um problema difícil a resolver. A tia de Maria Felizmina, D. Maria da Conceição muito sofrera. Quando válida, fizera um testamento ou carta de consciência em que deixava à sobrinha mil escudos e um capital ou bens imóveis que rendessem 300$00 mensais, em dinheiro de 1936 e 1937. O testamento foi sonegado. Nunca o mostraram a Maria o que demonstra má fé. Se era uma carta de consciência valia à face da moral, e criava uma obrigação de consciência.

O tio Ernesto de Maria Felizmina mal aconselhado, com o falecimento da esposa, começou a desprezar a sobrinha. O sr. Ernesto impôs à sobrinha que saísse de casa! começava a recusar cumprir obrigações legais e familiares que assumira, de velar pela sobrinha doente!
D. Maria Felizmina contava 33 anos. Tomou à pressa alguma roupa e abalou. Não sabia para onde ir. à porta das tias não bateria porque só a esperariam desgostos. Havia de ser mendiga depois de ser senhora?
Recordou-se de ter visto num jornal um anúncio:
" Lar académico recebe meninas e professoras."
Para poder pagar a sua mensalidade começou a leccionar em particular piano, bordados e pintura. Muitas lições eram gratuitas e de outras não recebia a remuneração porque se esqueciam de pagar. Foi nomeada regente do Posto Escolar de Gondar, em Guimarães, em 28-09-1939. Em 20 de Março 1940 era transferida para o posto escolar de Fradelos, na freguesia de Tadim, concelho de Braga.

D. Maria Felizmina esgotou-se de trabalho diurno e nocturno. Tantos ensaios de música, tantas aulas, tantos esforços e tão fraca alimentação- pois tirava o alimento da boca para o dar aos necessitados -  conduziram a um estado geral de esgotamento, um organismo já enfraquecido. As forças faltavam-lhe e a doença prostrou-a no leito. Alimentava-se mal. Tinha que pagar o aluguer da casa e da escola. Foi sempre muito cuidadosa em pagar as dívidas. Preferia não comer a dever!
Em casa não tinha criada nem alguém que cuidasse dela. Estava só, e sem dinheiro. Rezava e pedia ao Coração de Jesus e a Nossa Senhora do Sameiro que lhe valesse em tão difícil circunstâncias. E a pobreza extrema e o abandono a rondar-lhe a porta!
À hora fixa as crianças da escola iam servir-lhe o leite à cama. Todos os meninos queriam essa honra. Ela dizia " então era servida pelos anjos!"
Um dia tudo faltava na casa de Fradelos. A doente esgotara os seus últimos centavos. Apetecia-lhe um caldinho de cenouras. Remexia e revirava o porta-moedas. Não tinha nada. De repente, sem saber como apareceu-lhe cinco tostões na mão! Manda comprar as cenouras e come o caldinho!
Ninguém a ajudava ou socorria. Não podendo pagar, não comprava nada. não conhecia ninguém que lhe pudesse emprestar dinheiro. A população do lugar compunha-se na sua maioria de jornaleiros e carregadores. Como poderiam ajudá-la?

Um sacerdote foi visitá-la e achou tão mal que aconselhou o seu internamento no Hospital de Braga.
Fizeram-lhe imediatamente uma operação quase  sangue frio por não poder suportar anestesiantes, a qual durou 3  horas. Sofreu horrivelmente.
Ano e meio esteve no Hospital. Vinham os passarinhos poisar-lhe na cama e as pombas entravam também a visitá-la.
Passou o Natal de 1943 no Hospital de S. Marcos.